sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Bolívia

A América Latina passa por um momento singular em sua história. A ascensão de governos populares e de esquerda é um reflexo do protagonismo dos novos agentes políticos: os povos indígenas, os mestiços, os negros, a base da pirâmide social. Este movimento tem uma dimensão continental: a situação social em um país reflete no outro, algo que nunca teve a força que tem hoje. Mas, é claro, toda ação gera um reação. A direita não tem demonstrado capacidade de reagir nas urnas, então apela para o golpe, como já o fez na Venezuela. Infelizmente, o governo de Evo Morales não tem tido a capacidade de desarticular a oposição, como tem feito o governo Lula no Brasil. Alguns acham que o governo brasileiro é fraco e vive fazendo concessões para governar. Mas aqui, para a oposição sobreviver às urnas no mês que vem, tem sido obrigada a mostrar que cultiva uma relação civilizada com o governo e até mesmo a utilizar a imagem de Lula. Até mesmo o neto de ACM, que ameaçou a dar uma surra em Lula há algum tempo, tem elogiado o governo para não ser derrotado nas urnas.
As elites latino-americanas são as piores do mundo, porque aqui há uma separação que vai além da separação de classe. Aqui há uma separação étnica também. A elite asiática é asiática, a elite dos países africanos é africana, a elite européia é européia, a elite norte-americana é norte-americana, mas a elite latino-americana não se julga latino-americana. Os brancos daqui não acham que pertencem ao mesmo povo dos índios, dos mestiços e dos negros. Há mais semelhanças entre um guatemalteco e um uruguaio do que entre um grego e um irlandês, entretanto a elite irlandesa e a grega se consideram européias e se vêm enquanto participantes de um projeto continental. As elites dos nossos países se ofendem ao serem chamadas latino-americanas. No caso do Brasil, por não partilharmos a língua espanhola, ideologicamente já somos condicionados a não nos pensarmos latino-americanos. Não sabemos o que acontece nos países vizinhos, não há correspondentes de nossos jornais. Nova Iorque parece mais próxima do que La Paz.

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